Se tem algo que não dá para escapar nessa vida, é a morte. Mas no Brasil, além de inevitável, morrer também é caríssimo! Pode preparar o bolso, porque até para "bater as botas" é preciso fazer um financiamento.
Imagina a cena: você passa a vida inteira economizando, pagando impostos, contribuindo para a previdência, e quando finalmente decide dar o grande adeus... surpresa! A família descobre que precisará desembolsar uma pequena fortuna para te dar um "até logo" digno.
"Mas ele já está morto, vai reclamar do preço pra quem?" – diz o atendente da funerária, enquanto apresenta um catálogo de caixões que variam de "básico sem alças" até o modelo "premium com ar-condicionado e Wi-Fi" (como se o falecido fosse fazer check-in nas redes sociais do além).
Os planos funerários viraram quase um planejamento familiar: "Filho, já escolhi meu caixão. Está na promoção, só R$5.999,90. Dá pra parcelar em 12 vezes sem juros. É meu presente de Natal pra vocês!"
E não para por aí. Tem a taxa do cemitério, a taxa da capela, a taxa do velório, a taxa do padre, a taxa pelo discurso emocionado de despedida, a taxa pelo lenço para enxugar as lágrimas, e até uma misteriosa "taxa administrativa" que ninguém sabe explicar direito.
O Inventário: Transformando Heranças em Dívidas desde 1500
Ah, mas você achou que o drama acabava com o sepultamento? Bem-vindo ao espetáculo chamado "inventário" – o golpe final no bolso dos herdeiros! Enquanto em países civilizados você herda bens, no Brasil você herda uma maratona burocrática digna de uma novela mexicana.
"Seu pai deixou uma casa, um carro e uma poupança? Que maravilha! Agora você só precisa pagar o ITCMD, as custas judiciais, os honorários advocatícios, o contador, o perito, as certidões negativas, e mais um punhado de taxas que inventamos ontem à noite! Total: mais do que o valor dos bens. Parabéns, você acaba de herdar uma dívida!"
O sistema é tão eficiente que consegue transformar um apartamento de três quartos em uma pilha de boletos. É o único país onde você reza para que o falecido tenha gastado tudo em vida – pelo menos assim não sobra nada para o governo confiscar.
"Mas por que demora tanto?", pergunta o ingênuo herdeiro ao advogado no terceiro ano de processo. "Porque o juiz está de férias, depois o cartório entrou em recesso, depois mudou a legislação, depois o escrivão teve uma epifania sobre um documento extra que ninguém sabia que precisava, e agora estamos esperando a próxima geração nascer para dar continuidade ao processo."
A Democracia da Morte
A beleza do sistema mortuário brasileiro é sua incrível capacidade de unir o país: rico ou pobre, todos são igualmente extorquidos! É a verdadeira democracia que tanto buscamos – na hora de cobrar, não há distinção de classe.
A diferença é que o rico contrata um advogado para tentar escapar de 30% das taxas, enquanto o pobre vende o único bem que o falecido deixou para pagar o inventário desse mesmo bem. É o paradoxo perfeito: você precisa vender o que herdou para poder herdar o que vendeu!
O brasileiro médio, que em vida já malabarizava contas e boletos, agora precisa deixar um "fundo de emergência para funeral" junto com as economias para a aposentadoria. É como um plano de saúde, mas que só funciona quando você já não precisa mais de saúde.
A Economia da Morte
O setor funerário é o único negócio do país com demanda garantida e clientes que não podem reclamar. É o sonho de qualquer empresário: um público que literalmente não tem pra onde correr!
"Estamos em crise, o país está quebrado!", dizem os políticos na TV. Enquanto isso, os cartórios, funerárias e o Leão do imposto continuam faturando alto com cada alma que parte. Se existe um setor que nunca sofre recessão, é o da morte.
O mais irônico é que depois de uma vida inteira ouvindo "leve só o que couber no caixão", descobrimos que nem o caixão a gente consegue levar. Pelo preço dele, a família vai querer usar como rack de TV ou estante de livros depois.
O Legado Final
No fim das contas, o verdadeiro legado que deixamos não é nosso patrimônio, mas uma coleção de dívidas, processos e traumas burocráticos para nossos entes queridos. É quase um ato de amor decidir morrer sem bens – o presente perfeito para quem fica.
E assim segue a tragicomédia brasileira, onde até para entrar no céu é preciso pagar pedágio. São Pedro provavelmente olha para os brasileiros e diz: "Já pagou o DARF da travessia celestial? Não? Volta lá embaixo e entra na fila do Poupatempo Divino!"
Como diria o poeta contemporâneo: "No Brasil, até a morte tem imposto. O único país onde se paga caro para nascer, mais caro ainda para viver, e uma fortuna para ter a paz de finalmente morrer."
E dizem que a única certeza da vida são os impostos e a morte. No Brasil, as duas coisas andam de mãos dadas até depois do último suspiro.